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morre o companheiro alfredo bonanno

Recebemos a triste notícia de que o companheiro Alfredo Bonanno partiu na manhã de hoje, quarta-feira, dia 6 de dezembro de 2023, na cidade de Trieste, território dominado pelo Estado italiano. Por décadas, foi uma pessoa com intensa presença nos meios anárquicos, participando de ações e conversas, bem como produzindo uma infinidade de textos sobre os mais variados temas, contribuindo permanentemente para não nos esquecermos jamais de que as ideias e as ações não podem ser campos separados, devem se retroalimentar constantemente.

Em “Tensão anárquica”, afirmou: “o anarquismo não é um conceito que pode ser encerrado numa palavra, como numa lápide. Não é uma teoria política. É um modo de conceber a vida, e a vida, sejamos jovens ou velhos, velhos ou crianças, não é algo definitivo: é uma aposta que devemos jogar dia após dia. Quando acordamos de manhã e colocamos os pés no chão, devemos ter uma boa razão para levantarmos, se não, não faz diferença nenhuma sermos anarquistas ou não. Podemos muito bem continuar na cama e dormir. E para termos uma boa razão, devemos saber o que queremos fazer; porque para o anarquismo, para o anarquista, não há qualquer diferença entre o que fazemos e o que pensamos”.

A anarquia não é uma palavra morta, a insurreição não é uma abstração ou programa futuro, o enfrentamento às formas de governo e ao princípio da autoridade e da propriedade se dão constantemente, no aqui e agora.

Por fim, recuperamos um trecho escrito por ele em janeiro de 2007 como nota prévia para uma versão atualizada do livro “Palestina, Mon Amour”. Nela, o companheiro fez um diagnóstico preciso do nosso tempo, contra o horror de nos acostumarmos ao horror.

“As direções da catástrofe são a decorrência mais compreensível da conclusão. A vitória da mediocridade está garantida, o mundo triunfa continuamente sobre si próprio, camada após camada. A história é testemunha pouco confiável e nauseante. Acredita-se que existem intervalos na mediocridade, que alguém deixa nela a marca de sua inteligência brilhante… Em vez disso, os sinais descontínuos são apenas a consequência de um aumento da estupidez. Uma massa pesada e repulsiva, endurecida por repetidas tentativas em vão, uma desilusão incessante, uma ferida profunda, tudo isso pesa no meu coração.

Sem arrepios, continuo a ser eu, mesmo quando lanço um olhar para o abismo. Para além do frio e do mal da vida que me assombra todos os dias, para além do espanto e da melancolia, para além da raiva dos justos e da maldade dos estúpidos, para além das mentiras que ajudam a sobreviver, para além dos objetivos mesquinhos que justificam os meios ferozes, para além dos ideólogos e dos massacres, a realidade se desenrola placidamente, segura, incontaminada, desprovida de explicações rabiscadas às pressas por cafetões inconclusivos.

Baratas, serpentes, gafanhotos e a poeira falsamente furiosa de sonhadores e poetas que a realidade dispersa aos quatro ventos”.

Seguimos sempre com nossxs mortxs em nossa memória, presentes em cada ação.

Que viva o ataque anárquico e a insurreição!