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Lançamento zine ‘DESAFIANDO O ANARQUISMO BRANCO’, de Budour Hassan

O texto a seguir foi escrito em julho de 2013 por Budour Hassan, jornalista palestina próxima dos meios anárquicos da região hoje conhecida como Jerusalém, onde vive. Nele, Hassan aborda a necessidade de promovermos deslocamentos de perspectiva quando se trata das lutas antiautoritárias fora do que se convencionou chamar de “mundo ocidental”. Sem dúvida as práticas anarquistas possuem princípios éticos básicos e inegociáveis como a ação direta, a autonomia, o antiautoritarismo e o anticapitalismo. Todavia, os combates nos quais elas ocorrem não são homogêneos, sendo atravessadas pelos contextos culturais de cada região. Nesse sentido, ela nos provoca a pensarmos para além do imaginário universal ocidental sem cair na defesa absurda de um relativismo no qual “tudo vale” ou da busca por justificar valores e práticas inconciliáveis com as lutas antiautoritárias.

Temos alguns pontos de discordância com Hassan, em especial quando ela lança mão de categorias ocidentais e universalistas como “direitos humanos” ou “liberdade religiosa” em sua análise sobre os ataques de anarquistas contra integrantes da Igreja católica durante a revolução de 1936 no território conhecido como Espanha. Em nossa perspectiva, tais categorias são cristalizações de valores próprios do liberalismo (e do neoliberalismo). A primeira delas deriva do final da chamada Segunda Guerra Mundial – mais especificamente de 1948, ano em que se promulgou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) –, quando os Estados capitalistas ocidentais buscavam disseminar a democracia como o novo universal e conter as revoltas e revoluções que eclodiam em diferentes regiões do planeta. As palavras não são neutras, quando falamos de direitos humanos, mesmo que em um uso tático, mobilizamos uma história política de atualização do liberalismo e da democracia. Já em relação ao que seria a liberdade religiosa, a questão para nós anarquistas nunca foi sobre a crença de uma ou outra pessoa, e sim sobre manter acesa a luta anticlerical, ao combate às religiões enquanto instituições que mobilizam valores morais e fundamentam exercícios de governo no atravessar dos séculos. Nesse sentido, não nos interessa reivindicar nem a concepção de direitos, nem mesmo de humano, nem tampouco entrar na armadilha sobre as “crenças individuais”.

Ainda assim, tomamos a atitude de traduzir e difundir o texto em questão por considerar que ele traz questões importantes para pensarmos a relação entre as forças antiautoritárias e o combate às investidas coloniais que seguem em uma atualização permanente, estas últimas impregnando até mesmo parte considerável dxs anarquistas do chamado ocidente, que só reconhecem a potência e a tensão anárquica das lutas quando estas são feitas à sua imagem e semelhança.

que sigamos afiando o punhal e aguçando os ouvidos.
edições insurrectas,
verão de 2024.

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