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EDITORIAL – 20 dias se passaram desde que em 22 de março 9 companheirxs começaram uma greve de fome em 4 diferentes prisões contra as últimas modificações no Decreto de Lei 321 e pela imediata liberação do companheiro Marcelo Villaroel.
A solidariedade encontrou e abriu brechas nas restritivas quarentenas, toques de recolher, ruas patrulhadas por militares e policiais. Cartazes, intervenções no metrô, travamento de ruas e jornadas de coleta se somam a uma série de fóruns e rádios online. A solidariedade internacionalista, ainda incipiente, começa a romper o silêncio e a monotonia pandêmica.
Se passaram 10 dias desde o boletim Nº1 e 3 companheirxs presxs por atos relacionados à revolta deixaram de participar na greve de fome. Lhes desejamos uma rápida recuperação. Por outro lado, xs outrxs 6 companheirxs mantém a greve.
Este pequeno boletim seguirá com sua periodicidade a cada 10 dias da greve de fome, além de complementar o informativo com breves entrevistas axs companheirxs na prisão.
Pela revogação das últimas modificações no D.L. 321!
Pela liberdade imediata do companheiro Marcelo Villaroel!
17 DE ABRIL JORNADA DE AGITAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE COM XS PRESXS ANARQUISTAS E SUBVERSIVXS EM GREVE DE FOME
Fazemos um chamado para este 17 de abril, dia internacional dxs presxs políticxs, para a agitação em todos os territórios em solidariedade direta e ativa com xs companheirxs em greve de fome.
QUEM SÃO XS COMPANHEIRXS MOBILIZADXS?
Cárcere de Alta Segurança
Marcelo Villaroel: Detido em março de 2008 na Argentina, ingressou nas prisões chilenas em dezembro de 2009. Condenado a 14 anos de prisão pelo Caso Security, restando a ele cumprir condenações dos anos 90 feitas pela promotoria militar.
Joaquín García: Detido em novembro de 2015, acusado do atentado explosivo frustrado contra a 12ª delegacia. Foi condenado a 13 anos de prisão.
Juan Flores: Detido em setembro de 2014, condenado a 23 anos de prisão pelo atentado explosivo ao subcentro e ao metro Dominicos.
Juan Aliste: Em prisão desde julho de 2010, condenado a 42 anos pelo Caso Security. Não se soma a greve de fome somente por motivos de saúde, mas adere plenamente aos motivos e formas de mobilização.
Seção de Segurança Máxima
Francisco Solar: Detido em julho de 2020, acusado do envio e colocação de artefatos explosivos, ainda aguarda julgamento.
Cárcere de San Miguel
Mónica Caballero: Detida em julho de 2020, acusada da colocação de artefatos explosivos, ainda aguarda julgamento.
Prisão/empresa Santiago 1
Pablo Bahamondes Ortiz: Detido em setembro de 2018 nas vésperas das manifestações pelo 11 de setembro, formalizado sob a lei de controle de armas e atentado explosivo. Ainda em prisão preventiva, aguarda julgamento.
A LIBERDADE FLORESCERÁ SOBRE AS RUÍNAS DAS PRISÕES
Faixa na Grécia em solidariedade com a greve de fome
Estado de saúde dxs companheirxs em greve de fome (05 de abril 2021)
No que diz respeito à questão médica, todxs xs companheirxs são pesadxs diariamente e têm seus seus sinais básicos examinados. Mónica é transferida uma vez por semana ao Hospital Penal para um check-up completo, enquanto Francisco, Juan, Marcelo e Joaquín são visitados uma vez por semana por um médico da ex penintenciária (prisão chilena mais antiga, localizada na capital do país). Em Santiago 1, o deplorável e colapsado sistema de saúde da A.S.A (Área de Saúde Ambulatorial) é o local onde os companheiros são controlados clinicamente e onde inclusive chegaram a negar-lhes a pesagem em uma ocasião.
Com uma perda média de 5.7 kg, além de dores de estômago e de cabeça, cansaço, cãibras e tonturas leves, os efeitos da greve já começam a ser sentidos no corpo dxs companheirxs.
Prisão de San Miguel
Mónica Caballero: Perda de 5 kg.
Seção de Segurança Máxima
Francisco Solar: Perda de 6 kg.
Cárcere de Alta Segurança
Marcelo Villarroel: Perda de 5 kg.
Joaquín García: Perda de 7 kg.
Juan Flores: Perdida de 6 kilos.
Prisão Santiago 1
Pablo Bahamondes Ortiz: Perda de 9 kg.
José Duran: Perda de 5 kg.
Tomas González: Perda de 4 kg.
Gonzalo Farías: Perda de 5 kg.
ENTREVISTA AO COMPANHEIRO JUAN FLORES
Esta é a sua segunda grande greve. Como você se sente física e animicamente com esta nova mobilização? (Juan Flores e Nataly Casanova realizaram uma greve de fome de 54 dias, rechaçando o encarceramento de seu entorno solidário e o isolamento de Nataly no ano de 2015)
JF: Embora esta seja a minha segunda experiência em formar parte de uma greve de fome coletiva, me atrevo a dizer que tem sido muito menos invasiva que a anterior e isso atribuo diretamente ao fato de que na primeira mobilização, em 2015, eu me encontrava completamente só quanto à companhia pessoal, era o único preso nesse espaço com critérios e convicção política, apesar disso não ter sido um fator impeditivo para levar adiante a iniciativa. Até agora tem sido mais fácil de lidar com tudo isso, afortunadamente estou acompanhado neste espaço e não sou o único companheiro em greve de fome, Joaquín García também está e nos apoiamos no cotidiano.
O ânimo vai bem, estou partindo de que há um interesse maduro e sério nesta luta, é uma luta legítima contra quem historicamente busca nos silenciar. Então, como não estar bem de ânimo se hoje novamente estamos agindo juntos enquanto inimigos declarados do Estado? Quanto ao físico, também estou bem. Existe cansaço, nada mais do que isso, também não insuportável. Sigo me desenvolvendo com normalidade, apenas com menos intensidade.
Esta greve cruza distintas prisões, módulos e companheirxs de distintas causas. Como você vê esta realidade entre xs grevistas?
JF: Bom, antes de tudo, gostaria de enviar um caloroso cumprimento axs outrxs companheirxs mobilizadxs há mais de 20 dias.
Saudar fraternalmente aos companheiros da Conspirações Células de Fogo sequestrados na Grécia, que também estão mobilizados, aos companheiros sequestrados na Itália e em todos os territórios dominados pelos estados e seu poder.
Voltando ao ponto anterior, quanto ao interesse maduro, sou super explícito em assinalar que isso existe ao longo de nossas vidas, no desenvolvimento como indivíduos em guerra e na agudização do conflito contra um inimigo único. Isto considerando que, apesar de alguns de nós nos reivindicarmos como anarquistas, subversivxs, libertárixs, todos somos indivíduos com afinidades com as ideias antiautoritárias. Neste sentido, como não dar vida a este corpo de sequestrados? Hoje o presente nos exige organização de todxs posicionadxs em guerra contra o poder, esta luta sempre foi dirigida contra aqueles que decidiram exercer a lei e tomar decisões para o bem da sociedade, pregando a igualdade frente à lei, quanto suas próprias leis e sociedade foram construídas na base da submissão e desigualdade. Ficar inerte não é e nem será uma opção em nossas vidas.
Algumas palavras finais para a rua e para xs solidárixs?
JF: Agradecer com o coração cada um dos gestos e iniciativas que ocorreram durante o transcurso desta greve de fome, as saudações de Euskadi, Guatemala, as ações na Espanha, Argentina, Tessalônica/Grécia. As saudações e a força enviadas desde a prisão de Huachalalume e de todas essas mentes indômitas que rechaçam o imobilismo e a indiferença…
É muito importante ter a noção que esses métodos de luta estão infinitamente longes de serem novos, tanto aqui quanto em muitos territórios dominados. O relevante está em nutrir e retroalimentar com outros exemplos de luta já utilizados, as mobilizações e longas greves de fome levadas adiante por compas sequestradxs na ditadura e mais ainda a luta empregada no terreno por elxs não são desconhecidas por nós . Assumir e participar da história é uma tarefa fundamental, dar sentido e continuidade à uma luta já histórica, reforçar que nada começou aqui. Hoje a subversão e o anarquismo, dentro de suas possibilidades reduzidas na prisão, novamente antepõe suas consciências, afetos e ideias, dando continuidade à uma vida de insubmissão. Bom, novamente agradeço os gestos, a propagação do caráter desta Greve de Fome, um caráter marcadamente refratário e insubmisso, e que isso não seria nada sem a cumplicidade e solidariedade dxs companheirxs que, de múltiplas maneiras, dão vida a belas iniciativas que nos alegram neste atual cativeiro.
CRONOLOGIA DA SOLIDARIEDADE
30 de março: Barricada incendiária na cidade de Buenos Aires em solidariedade com xs grevistas.
31 de março: Cartazes e propaganda na Argentina, Brasil e Costa Rica. Prisioneiros sociais da cárcere de Huachalalume, na IV Região, enviam uma saudação à mobilização.
01 de abril: Em Concepción a coletiva Zarzamora realiza um vídeo explicativo sobre os efeitos das últimas modificações no D.L. 321 para todxs xs presxs.
02 de abril: Fixas na Universidade de Tessalônica, na Grécia, em solidariedade “axs prisionerxs do Estado” e em solidariedade com a greve de fome no Chile.
03 de abril: La Serena. Mural e vídeo em solidariedade com xs presxs em greve de fome. -A companheira Mónica, em greve de fome, envia um desenho “Não nascemos para viver em jaulas”.
04 de abril: Faixas no Uruguai em solidariedade com a greve de fome dxs presxs no Chile.
05 de abril: É publicado um informe de 15 dias de greve de fome no qual se informa a queda de peso e a situação dxs companheirxs. -Programa Online de “Muros y Resistencia” sobre os casos de Joaquín García e Juan Flores.
06 de abril: Programa de rádio Internacionalista Negras Tormentas realiza uma versão especial em solidariedade com a greve.
07 de abril: Faixa pendurada no metrô Las rejas, em Santiago, em solidariedade com a greve de fome. -Programa de Radio Online Kontrababylon entrevista porta-voz da greve de fome.
08 de abril: Tomás González Quezada, desde a cárcere Santiago 1 decide deixar a greve de fome por problemas de saúde. -“Ciclo de cine anticarcelario” realiza uma série de minidocumentários em solidariedade com xs grevistas.
09 de abril: José Duran e Gonzalo Farías (mapaxe) desde a cárcere Santiago 1 deixam a greve de fome. -Chamado internacional para o envio de fax e e-mails para embaixadas e sedes diplomáticas chilenas no exterior. -Faixas na cidade de Patras, Grécia, em solidariedade com a greve de fome no Chile. -“Comité de recuperación cuartel Borgoño” realiza um fórum online sobre prisão política. -No bairro Simon Bolivar se realiza um corte de rua em solidariedade com xs grevistas e em memória dos combatentes assassinados Erick e Ivan. -Xs grevistas Marcelo Villarroel, Joaquin Garcia, Mónica Caballero e Francisco Solar são novamente convocados aos tribunais para que abandonem a greve de fome. Todxs rechaçam e mantém com força a mobilização até as últimas consequências. -Pessoal do Instituto Nacional de Derechos Humanos (INDH) acessa a Cárcere de Alta Segurança e a Seção de Segurança Máxima para visitar os grevistas.
10 de abril: Jornada em solidariedade e cumplicidade anticarcerária organizada pelxs companheirxs de D-Linkir. Apresentação do periódico La Noche, fóruns e outras coisas. -Grande faixa em Maipú: “Força para xs presxs em greve de fome…”.
10-11 de abril: Jornada movimentada e solidária em Villa Portales para coletar líquidos para abastecer a greve de fome.
ALGUNS TEXTOS PARA REVISAR E CONSULTAR
“Acredito fortemente nesta batalha que estamos fazendo e continuo com o newen suficiente. Todo gesto de solidariedade é o alimento que absorvo nestes dias, entendendo que cada ato são energias que mantém viva a luta contra quem deseja nos submeter. Um abraço cúmplice atravessando os muros a quem mantém o espírito indômito, todo meu carinho a vocês.” -Pablo Bahamondes, Santiago 1-
“Quero enviar um forte abraço combativo aos meus paisanos [conterrâneos] Mónica e Francisco e toda minha solidariedade ao movimento Mapuche. Muita força e ânimo na greve de fome para exigir a revogação do art. 9 e a restituição do art. 1 do Decreto de Lei 321, para que a liberdade condicional seja um direito e não um benefício concedido pela prisão. (…)Até breve e fogo nas prisões sempre.” Espanha – Comunicado solidário de José Adrián Poblete, “El Cote”, desde a prisão –
“A demanda levantada pelos grevistas nos parece totalmente justa, por isso respaldamos a mobilização de forma absoluta. A modificação do Decreto de Lei n. 321 implica em em atos que colocam ainda mais travas na liberdade condicional das e dos privados de liberdade. Sua aplicação retroativa, o que é totalmente excepcional em nosso ordenamento jurídico, afeta de forma direta centenas de prisioneirxs que já não podem acessar ao benefício que se demonstrou um dos mais eficazes quanto à reinserção. Que esta situação se evidencia ainda mais no caso do companheiro Marcelo Villaroel, que em virtude da norma antiga poderia acessar a liberdade condicional em 2019. Atualmente, poderá acessar esse benefício somente no ano de 2036, com o que o poder pretende que ele esteja mais de 40 anos privado de liberdade”. -Comité de Defensa del Pueblo Hermanos Vergara Toledo-
“Esta greve de fome deve sair das prisões e se mostrar também na rua, acoplar as forças e criar a união, golpear forte” – Felipe Ríos, condenado a 12 anos pelo Caso 21 de maio, prisioneiro na Cárcere El Manzano.
“Manifestamos nosso apoio às greves de fome como ferramentas de luta. Axs companheirxs por colocar seus corpos como o terreno indomável onde as bestas dos captores não exercerão seu domínio, ainda que acreditem poder fazê-lo. À decisão valente e profunda de cruzar a débil linha do apego ao mero fato de estar vivx e se dispor a cruzá-la por aquilo que é justo. Pela sua solidariedade e seu compromisso com as ideias da rebelião e com a luta. (…). Mais uma vez nossxs companheirxs devem recorrer ao último bastião da pressão, colocando seus corpos como trincheira de luta para evidenciar que, apesar de no $hile não existir prisão perpétua, existe sim uma ânsia de todo o aparato jurídico político em perpetuar o castigo contra quem se opõe e ameaça sua tão apreciada ‘normalidade’” -Coordinadora 18 de octubre-
BUSCANDO LA KALLE
Informativo da mobilização e greve de fome de prisioneirxs subversivxs e anarquistas
Pela revogação das últimas modificações no Decreto de Lei 321!
Pela liberdade imediada do companheiro Marcelo Villaroel!
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